sábado, 6 de agosto de 2005

Conforto e obrigação

    
Na última postagem falei sobre alguns pensamentos que tenho a respeito da internet, mas algo me incomodou, em certos trechos acabei trocando palavras apenas para soar mais formal, isso não chega a ser um problema, afinal tenho o hábito de ler documentos com essa linguagem e isso naturalmente influencia minha escrita.

    O que me incomoda é que, em um momento em que poderia relaxar e escrever de forma mais informal, mesmo sem perceber acabei me censurando, e sei que não teria feito isso se não fosse pelo medo de julgamentos, por isso quero tentar expor alguns pensamentos de maneira mais natural.

    Vivemos em uma sociedade onde qualquer pessoa pode ser julgada a qualquer instante e não apenas pode, mas inevitavelmente é, desde o primeiro contato obrigatório com a vida social, que acredito ser no início da vida escolar, começamos a frequentar a escola aos quatro ou às vezes três anos de idade e desde então somos constantemente avaliados e comparados.


    Não entrarei em temas técnicos, quero manter isso o mais distante possível daqui, acredito que devam ficar restritos apenas aos momentos em que são realmente obrigatórios, mas a realidade é que buscamos sempre a mesma coisa em qualquer lugar, o conforto.

    Odiamos quando não estamos confortáveis, por isso usamos o fogo e tudo o que inventamos, queremos ocupar nosso tempo e raramente paramos para perceber que, no fundo, só precisamos de comida e água para sobreviver, mas não nos contentamos com isso, queremos cappuccino feito em uma máquina, servido em uma xícara bonita, em uma padaria limpa, porque é bom e porque nosso cérebro se sente seguro quando vivemos esse tipo de momento.

    Criamos tantas coisas para alcançar conforto, a cadeira foi inventada para que pudéssemos descansar de forma mais agradável e, ainda assim, hoje todos somos obrigados a permanecer nelas, qual é a lógica, será que sentar em uma cadeira realmente aumenta a qualidade de um resultado, é fato que mesmo tendo criado tanto conforto ainda precisamos de comida e água, por isso é aceitável que existam obrigações, mas em que momento o conforto deixou de ser escolha e se transformou em obrigação.

    Nós mesmos estabelecemos padrões e adoecemos por eles, cada vez mais ficamos doentes pelas exigências e os poucos espaços que antes representavam refúgio estão diminuindo, ao mesmo tempo em que nossa necessidade por eles só cresce, precisamos de um abrigo verdadeiro, um lugar onde possamos realmente estar depois das obrigações, não apenas um ponto de falso conforto.

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